Patient Blood Management: especialistas debatem racionalização da transfusão
O conceito de Patient Blood Management (PBM) corresponde a uma estratégia global de racionalização da transfusão, que permite a melhor utilização do sangue no sentido de prestar o melhor tratamento ao doente. Perceber como é que em Portugal se valorizam as diferentes estratégias do PBM no seio das diversas especialidades médicas, foi um dos objetivos da reunião Share Point, organizada pela CSL Behring, que decorreu em Lisboa no passado dia 27 de maio.
Segundo o Dr. António Robalo Nunes, imunohemoterapeuta do Hospital das Forças Armadas e presidente do Anemia Working Group Portugal (AWGP), “o conceito de Patient Blood Management (PBM) é uma estratégia global que preconiza o bom uso do sangue não apenas na perspetiva de poupar sangue, mas na perspetiva de prestar o melhor tratamento ao doente”. O especialista explica que esta estratégia de racionalização da transfusão assenta em três pilares: otimização pré-operatória (tratamento da anemia nos doentes que necessitam de intervenção cirúrgica), estratégias de minimização de perdas intraoperatórias (evitar hemorragias durante a cirurgia, o que se prende fundamentalmente com técnicas anestésicas e cirúrgicas), e gerir o pós-operatório (adotar uma estratégia individual restritiva com níveis adequados de tolerância à anemia).
Relativamente às mais-valias da implementação do conceito de PBM, o Dr. António Robalo Nunes defende que “a terapêutica transfusional é uma terapêutica sem risco zero, dispendiosa, que justifica – tal como documentado internacionalmente – a implementação de programas que permitam minimizar a transfusão”. O imunohemoterapeuta explica que “existe evidência científica que demonstra vantagem na chamada “estratégia restritiva”, que significa transfundir menos. A implementação de programas conducentes à utilização racional do sangue traduz-se num ganho assistencial (diminuição dos riscos associados à transfusão) e, por outro lado, a utilização de alternativas poder-se-á traduzir numa redução significativa dos custos com a Saúde”.
É neste contexto que surge o conceito de Patient Blood Management, que envolve uma planificação global e multidisciplinar, uma vez que são diversas as especialidades que intervêm na sinalização dos doentes candidatos a entrar neste programa de otimização transfusional.
O conceito de Patient Blood Management foi apresentado em abril, em Florença, no Simpósio anual da Network for the Advancement of Patient Blood Management, Haemostasis and Thrombosis (NATA) e preconiza a racionalização da transfusão, embora não possa “ser visto na lógica da poupança do sangue por si só, mas sim pelo que isto significa de melhor cuidado ao doente. Até porque do ponto de vista ético é muito importante que se dê o melhor destino e uso clínico a um bem escasso como o sangue”, destaca o presidente do AWGP.
Impacto da implementação de um programa nacional de PBM na Saúde pública em Portugal
De acordo com as conclusões de um estudo realizado pela EXIGO com a colaboração do AWGP e consultores nacionais, a implementação de um PBM a nível nacional poderá representar um impacto substancial na redução da mortalidade intra-hospitalar e carga global das doenças associadas (DALY).
Embora Portugal não seja um dos países europeus com maior consumo de sangue per capita, um programa de PBM representará uma melhoria fundamental nos resultados em Saúde relativos à utilização de transfusões e suas consequências na duração do internamento e na taxa de reinternamento.
Conforme conclui o estudo, todos estes fatores representam um elevado valor em termos de Saúde pública, o que também implica um grande valor económico para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), face à possibilidade de uma poupança substancial após um ano da implementação de um programa de PBM em Portugal.
PBM: estender o conceito a áreas improváveis
Sendo a anemia um dos principais fatores de prognóstico para a necessidade de utilizar a transfusão no contexto intraoperatório, a Dr.ª Dialina Brilhante, imunohemoterapeuta do Instituto Português de Oncologia de Lisboa (IPO Lisboa), explica que “a anemia na população em geral é, na maioria das vezes, carencial por défice de ferro, folatos ou vitamina B12, sendo a ferropénia a sua principal causa”.
Tendo em conta aquela definição, a especialista aconselha a que a anemia seja sempre investigada “para confirmação da existência de défices que devem ser corrigidos, sendo esta uma medida de otimização da condição física do doente, pois nas situações em que o doente está em tratamento médico ou necessita de cirurgia a correção da anemia tem implicações no prognóstico”.
A Dr.ª Dialina Brilhante acrescenta que “o PBM é uma estratégia de otimização das condições físicas dos doentes preparando-os para as intervenções médicas ou cirúrgicas que necessitam. Assim, o PBM tanto se aplica a um doente hospitalar ou em ambulatório, como a qualquer doente da população em geral uma vez que sabemos da elevada prevalência da anemia e ferropénia em Portugal”, destaca a especialista, concluindo que “estender o conceito de Patient Blood Management a áreas da Saúde pública e esperar a colaboração dos médicos de Medicina Geral e Familiar (MGF) no sentido de estarem atentos aos sintomas da anemia tem um impacto relevante no bem-estar da população”.
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