Nove Hospitais do SNS vão Avançar com Projetos de Redução de Transfusões de Sangue
Nove hospitais públicos portugueses vão iniciar um projeto piloto para reduzir o número de transfusões de sangue, uma medida que se fosse aplicada a nível nacional diminuía para metade as transfusões, segundo peritos.
O médico imuno-hemoterapeuta António Robalo Nunes explica que a ideia de um programa de gestão de sangue do doente “tem vindo a ganhar relevo no panorama científico e médico internacional”, dando agora os primeiros passos concretos em Portugal.
No sábado, especialistas vão juntar-se em Cascais para debater este conceito de ‘patient blood management’ (gestão do sangue do doente) a nível nacional e internacional.
Segundo António Robalo Nunes, o objetivo do programa é “preservar o sangue do doente como recurso único” e criar nos hospitais “estratégias concertadas para poder sinalizar doentes em risco de transfusão, sobretudo em contexto cirúrgico, para reduzir as transfusões”.
O programa permitirá também poupar sangue, que é um bem escasso, mas esse não é o objetivo central. O foco reside na redução da exposição a transfusões e na melhoria de cuidados.
“A transfusão é salvadora de vidas e de maneira alguma é uma terapêutica de risco elevado, mas tem riscos, não está isenta de risco”, afirma Robalo Nunes à agência Lusa, lembrando que as transfusões se associam a piores indicadores quanto a taxas de infeção e a aumento de dias de internamento.
20% da população adulta tem anemia
Em contexto cirúrgico, que representa metade das transfusões, o objetivo é identificar previamente os doentes com risco de transfusão, como são os casos das pessoas com anemia.
Segundo o especialista, que é igualmente presidente da Associação Portuguesa para o Estudo da Anemia, a existência de anemia é o principal fator de probabilidade para uma transfusão de sangue, num país como Portugal que tem cerca de 20% de população adulta com anemia.
Um dos objetivos deste programa é identificar no pré-operatório e em tempo útil os doentes com anemia, permitindo tratar a deficiência de ferro antes da cirurgia. O mesmo deve acontecer com a avaliação de deficiências de coagulação.
“Isto nem sempre é feito em tempo útil. A ideia deste programa é ir tornando esta gestão de sangue do doente uma cultura institucional e depois nacional”, afirmou o médico imuno-hemoterapeuta à Lusa.
Um despacho do Ministério da Saúde publicado este mês determina que este ano vão ser iniciados projetos pilotos de programa de gestão do sangue do doente em nove unidades hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
O objetivo é que em 2019 estes projetos piloto sejam alargados a todos os hospitais do SNS, refere o despacho.
Foi realizado já um estudo para estimar o impacto desta gestão de sangue do doente em Portugal, prevendo-se que, se fosse aplicada ao mesmo tempo em todo o território, poderia reduzir para metade as transfusões e ainda poupar num ano 67 milhões de euros, de acordo com Robalo Nunes.
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