IPO de Lisboa quer padronizar consumos de concentrados eritrocitários por ato operatório
O IPO de Lisboa está a implementar um programa Patient Blood Management (PBM), com o objetivo de prestar o melhor tratamento ao doente, que assenta numa estratégia glo bal de racionalização da transfusão, permitindo uma otimização deste recurso.
Uma das medidas que introduziu foi a elaboração de um mapa MSBOS (Maximal Surgery Blood Order Schedulling), com o intuito de padronizar consumos de concentrados eritrocitários (CE) por ato operatório em cirurgia programada.
O conceito de PBM compreende um conjunto de estratégias médicas e cirúrgicas que pretendem preservar e otimizar as condições do doente no que se refere à utilização de componentes sanguíneos, corrigindo os três principais fatores causadores de outcomes adversos: a anemia pré-operatória, a perda de sangue perioperatória e a transfusão de sangue.
Está já descrito que a implementação desta abordagem coordenada e multidisciplinar se traduz numa redução da utilização de componentes sanguíneos e das complicações associadas à transfusão, assegurando os melhores outcomes para os doentes e reduzindo os custos associados aos cuidados de saúde
Foi neste contexto que, em março de 2017, a União Europeia publicou um guia prático para a implementação do PBM nos hospitais, assumindo-o como uma estratégia a considerar.
Segundo Dialina Brilhante, “um programa de PBM requer uma abordagem holística que obriga a uma coordenação e planeamento apoiados por uma equipa multidisciplinar que envolve médicos, enfermeiros, assistentes técnicos e técnicos de laboratório”.
“Otimizar a produção de glóbulos vermelhos, minimizar as perdas sanguíneas e otimizar a tolerância à anemia constituem os três pilares associados ao conceito de PBM”, destaca a diretora do Serviço de Imunohemoterapia do IPO de Lisboa e secretária-geral do Anemia Working Group Portugal (AWGP).
A médica relata que no Instituto onde trabalha, na Consulta de Anestesiologia Pré-Operatória e sempre que o intervalo de tempo até ao ato cirúrgico o permita, é feita a referenciação dos doentes com anemia ao Hospital de Dia de Transfusão do Serviço de Imunohemoterapia.
Deste modo, fica assegurada a correção da ferropenia, do défice de vitamina B12 e ácido fólico, se existirem, e são otimizados os níveis de hemoglobina pré-operatórios. Assinala-se que estes parâmetros são regularmente avaliados mesmo em doentes sob quimioterapia.
Programa de PBM no IPO de Lisboa “no bom caminho”
Segundo Dialina Brilhante, a implementação do programa de PBM no IPO de Lisboa está no bom caminho: “No final de 2018, poderemos reavaliar a sua implementação recorrendo a indicadores como, por exemplo, o nível de Hb pré e pós-operatório; as alterações a serem introduzidas no mapa de MSBOS; e outros indicadores que sejam identificados como pertinentes. Desta forma, será possível ter uma ideia mais consistente do impacto institucional deste programa.”
Tem havido uma boa colaboração e recetividade por parte dos profissionais de saúde, que, conta, “é evidenciada pela própria construção do MSBOS, como pela referenciação de doentes ao Hospital de Dia e à consulta”.
Por cada euro investido no PBM existe um retorno de 3,8 euros
Dialina Brilhante salienta que um programa de PBM a nível nacional pressupõe a definição e monitorização de indicadores em cada instituição:
“Sabemos de antemão que um programa de PBM a nível nacional tem impacto em termos de saúde pública, na medida em que representa ganhos com a diminuição de tempos de internamento, diminuição do número de transfusões, diminuição de DALY (anos de vida ajustados à incapacidade) e um benefício económico estimado em 67 milhões de euro/ano”.
Os dados são de um estudo levado a cabo pelo AWGP, em colaboração com a EXIGO, que têm vindo a ser divulgados.
Para além do impacto na utilização adequada dos diferentes componentes sanguíneos, a imunohemoterapeuta destaca o impacto positivo ao nível do consumo de recursos e dos custos. No estudo do AWGP, atrás referido, verificou-se que por cada euro investido no PBM existe um retorno de 3,8 euros. “Poucas medidas em termos de saúde permitem este retorno”, salienta.
A médica entende que o nosso país tem uma situação de “relativo privilégio”, já que desde há muitos anos tem médicos especializados na área da transfusão e, por isso, sensibilizados para este tema.
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