Anemia, uma epidemia oculta

Anemia, uma epidemia oculta

É uma epidemia. Um problema de saúde pública que, apesar da sua dimensão, permanece oculto. É para ela que Robalo Nunes, presidente do Anemia Working Group Portugal (AWGP), chama a atenção no Dia da Anemia, que se assinala a 26 de novembro, alertando para “uma condição que afeta, a nível global, segundo os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 25% da população”.

Traduzindo-se pela redução de glóbulos vermelhos e da hemoglobina em circulação, o que compromete uma das funções mais nobres do organismo, “sem a qual não é possível haver vida que é o transporte de oxigénio a todos os órgãos e a todos os tecidos”, a anemia foi o tema de um estudo realizado pelo AWGP, o EMPIRE, o único estudo epidemiológico nacional dirigido à população adulta. “Descobrimos que a anemia afeta cerca de 20% da população adulta em Portugal. Na prática, um em cada cinco portugueses adultos tem alguma forma de anemia. E, destes, mais de 50% são por deficiência de ferro.”

Por comprometer, sempre, o transporte de oxigénio aos tecidos, a anemia manifesta-se de diferentes formas. Mas Robalo Nunes elege um sintoma habitualmente presente: “o cansaço invulgar para as atividades”. Um cansaço que tende a ser desvalorizado. “Todos nós já tivemos períodos em que nos sentimos mais ou menos cansados e encontramos sempre uma explicação. Há que valorizar esse cansaço e há que, sobretudo, partir da suspeita clínica. Além do cansaço, a palidez, as alterações do sono, alterações das unhas, da pele e dificuldade em respirar são também sintomas que nos devem levar a questionar: será anemia? O médico de família é o nosso grande parceiro e deve, perante este tipo de queixas, ponderar se existe anemia.”

As anemias por deficiência de ferro são as mais frequentes e a ferropénia, ”ainda sem anemia, deve constituir uma entidade a ser abordada objetivamente antes que a anemia chegue”. É que, se não for, “quase invariavelmente vai abrir um estádio mais grave de deficiência de ferro que é a anemia”. O que significa que “há aqui um novo paradigma, que é abordar a ferropénia ainda antes que ela se manifeste na sua expressão de maior gravidade”.

Apesar de ser hoje mais divulgada, ainda são muitos os que desconhecem este problema. Segundo o estudo EMPIRE, 84% não tinham ideia que sofriam de anemia “e quem não sabe que tem não vai à procura de ajuda. Por outro lado, verificamos que a ultra especialização médica leva a que as pessoas se concentrem muito naquelas que são as patologias ‘nobres’ das áreas de especialidade e tendem a olhar para outros fenómenos como se tivessem uma importância menor. A anemia encaixa neste conceito”.

Há anemias mais difíceis de tratar do que outras, mas o importante é procurar perceber o que as causa. “Quer na ferropénia sem anemia, quer a anemia em geral pode ser o primeiro sinal de uma doença subjacente grave e que justifica esta atitude de ir à procura do que está na raiz do problema e tratá-lo em conformidade”, alerta Robalo Nunes.

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