PBM – PBM num Hospital
PBM - PBM num Hospital
A deficiência de ferro é a principal causa de deficit nutricional isolado no mundo e também em Portugal. Estima-se que 1 em cada 3 portugueses tem ferropénia, e 1 em cada 5 tem anemia, configurando assim esta situação uma prevalência de 20%, constituindo um problema de saúde pública. O conceito e estratégias de PBM envolvem várias abordagens e atores como já
foi referido, mas neste contexto não é de estranhar a importância que assume no hospital a identificação da ferropénia, estudo da anemia e respetivo tratamento.
A deficiência de ferro está muitas vezes associada a fadiga, suscetibilidade a infeções e menor capacidade de trabalho e qualidade de vida e é a principal causa de anemia nos países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Também, as co-morbilidades tanto do défice de ferro como da anemia com outras patologias têm sido associadas a um aumento do risco da morbilidade e mortalidade.
A transfusão de concentrado eritrocitário, embora podendo constituir uma alternativa terapêutica da anemia, não vai á raiz do problema, poderá ajudar numa situação particular como no caso de hemorragia aguda, mas não invalida a necessidade do estudo da sua etiologia e correção. E se é verdade que a transfusão pode salvar vidas, também é verdade que há evidência crescente dos potenciais riscos associados.
A abordagem do doente no seu todo, não só proporciona a correção da anemia como proporciona uma utilização racional das diferentes terapêuticas, incluindo o recurso á transfusão.
A publicação do despacho nº 3387/2018 (Patient Blood Management PBM), de 05 de Abril de 2018, constitui a afirmação e disponibilidade para viabilizar um programa que tem como objetivo final a otimização das condições do doente, ao assumir uma estratégia de PBM.
Perante um terreno de aplicação tão vasta, e com o intuito de proporcionar soluções, decidiu o grupo nomeado, iniciar a sua atuação na área dos doentes que irão ser submetidos a cirurgia programada, e nos quais está prevista a alocação de componentes sanguíneos como reserva operatória.
Vivemos um cenário relativamente favorável já que a DGS tem publicado e atualizado uma série de Normas de Orientação Clínica (NOC) que tem um papel adjuvante neste programa.
Definimos uma série de indicadores com a preocupação de serem exequíveis nos diferentes hospitais que integram este programa piloto, sejam de acesso fácil, com recolha idêntica nas diferentes instituições com o duplo objetivo de nos compararmos entre nós, de realçar à gestão de topo a sua utilidade e de monitorizar a evolução do programa.
Embora a comissão de acompanhamento seja essencialmente constituída por médicos Imunohemoterapeutas, é valorizada e realçada a importância do trabalho em equipa multidisciplinar e recomendada a participação das Comissões de Transfusão dos diferentes hospitais. Esta recomendação insere-se justamente na necessidade de enquadramento sistémico desta estratégia e ampliação de pressupostos já contemplados nas diferentes NOC relativas á correta utilização da terapêutica transfusional e diagnóstico e tratamento da ferropénia.
Também o facto de nela estar incluída um representante da ACSS e SPMS3 indicia como é valorizado a avaliação da pertinência desta estratégia, que caso se revele adequada, poderá ser alargada a nível nacional. Foi publicada uma norma organizacional, Norma nº 11/2018 DGS, que entre outros dados recomenda um algoritmo de aplicação aos doentes submetidos a
cirurgia programada e em que se prevê a utilização de componentes sanguíneos, bem como a identificação da ferropénia e seu tratamento, tanto no pré como no pós-operatório, que no fundo sistematiza o que já existe e foi adaptada das recomendações australianas que, nesta matéria, constituem uma vanguarda na sua aplicação hospitalar.
Teremos nos próximos meses de aplicação (o programa tem previsto um tempo de aplicação de aproximadamente 1 ano) de responder ao desafio de envolver os cuidados primários neste programa, uma vez que sem eles, ficará incompleto. O doente vem ao hospital realizar a sua cirurgia e terá alta para o ambulatório ou cuidados primários.
O tempo de espera da cirurgia programada poderá constituir um tempo de preparação, para aqueles doentes que dele necessitem.
Também é uma oportunidade de desenvolver no SNS numa perspetiva inicialmente contemplada, mas pouco executada, a colaboração dos hospitais com os cuidados primários.
Também poderemos ter dados sobre um tempo nem sempre, valorizado, pela pressão dos números de execução que é o período pré e per operatório.
Do exposto poderemos concluir que este programa constitui uma excelente oportunidade de melhorar os resultados nos doentes, criar sinergias com os diferentes grupos profissionais envolvidos – médicos, enfermeiros, farmacêuticos, técnicos e gestores- e quiçá ter dados que nos permitam investir no mix certo dos recursos.
Construir um PBM num hospital é uma oportunidade de identificar meios, resolver problemas e investir na segurança do doente.
ACSS1 – Administração Central do Sistema de Saúde
IPST2 – Instituto Português do Sangue e da Transplantação
SPMS3 – Serviços Partilhados do Ministério da Saúde