PBM em Portugal – Avaliação do Impacto

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PBM em Portugal - Avaliação do Impacto

Sumário Executivo

Contexto

Os programas de Patient Blood Management (PBM), para além de visarem a melhoria dos resultados em saúde dos doentes, estão associados a um menor consumo de recursos e à redução de custos em Saúde.

Reconhecendo a importância desta temática e a elevada prevalência que a anemia apresenta no nosso país, a Associação Portuguesa para o Estudo da Anemia juntamente com a EXIGO Consultores, desenvolveram um modelo para avaliação do impacto da implementação de um programa nacional de PBM na saúde pública em Portugal.

Dados e métodos

Uma revisão orientada da literatura permitiu caracterizar o estado da arte internacional relativo ao PBM e identificar intervenções e áreas terapêuticas transponíveis para o contexto nacional.

O impacto da implementação de um programa de PBM a nível nacional, no âmbito da saúde pública, foi estimado através de um modelo matemático de análise de decisão que compara dois cenários: “prática clínica actual” e “com implementação de PBM”.

Paralelamente, foi realizado um questionário que visou avaliar a importância relativa das intervenções de PBM seleccionadas, de acordo com as preferências de peritos nacionais.

A população considerada incluiu doentes assistidos nos cuidados secundários do Serviço Nacional de Saúde Português nas seguintes áreas terapêuticas: cirurgia (ortopédica, cardíaca e urológica), hemorragia uterina anómala, gravidez, hemorragia gastrointestinal, oncologia, cardiologia, hemodiálise e doença inflamatória intestinal.

Para a caracterização de cada um dos cenários, foram considerados indicadores destinados a avaliar: i) efectividade, tais como, mortalidade intra-hospitalar, anos de vida ganhos e anos de vida ajustados pela incapacidade (DALY); ii) actividade assistencial e consumo de recursos de saúde, incluindo, duração do internamento, taxa de reinternamento a 30-dias, consultas e transfusões/consumo de sangue e iii) impacto económico-financeiro, decorrente da mortalidade intra-hospitalar prematura, internamento, reinternamento, medicamentos, efeitos adversos e transfusões/componentes do sangue.

O modelo foi parametrizado com dados específicos de Portugal e com dados provenientes de uma revisão sistemática da literatura. Adicionalmente, tanto o modelo como os parâmetros introduzidos foram validados e lacunas de informação completadas por um painel de peritos.

A avaliação do valor social e económico de PBM decorre da comparação da eventual implementação deste programa com a “prática clínica actual”, de acordo com os indicadores definidos e para a população abrangida.

Resultados

Estima-se que a implementação nacional de PBM possa abranger 384.704 doentes e que, após um ano, a transfusão de CE seja reduzida em 51,2%, o que representa uma diminuição de mais de 17 mil indivíduos transfundidos.

Em termos de efectividade, prevê-se que o PBM evite 594 mortes prematuras, o que representa um ganho de 1.481 anos de vida e a redução de 3.660 DALYs em relação à prática clínica actual.

É também esperada uma redução de 8,4% e 37,3% na duração do internamento e na taxa de reinternamento. Contudo, o número total de consultas médicas poderá aumentar 14,4% após a implementação de PBM.

É expectável que a implementação de PBM resulte num benefício económico de 67,7 milhões de euros (M€) num ano, o que representa uma redução total de custos de 6,3% em relação ao paradigma actual. A poupança ao nível dos custos do internamento e reinternamento é a mais relevante, representando 70,4 M€, seguindo-se a poupança com o sangue e transfusões (17,9 M€). No entanto, um programa de PBM implica uma gestão optimizada da situação clínica dos doentes, resultando num aumento do número de consultas e a um maior consumo de medicamentos. Em conjunto, representam uma despesa adicional de 24,1 M€.

Conclusões

A implementação de um PBM a nível nacional poderá representar um impacto substancial na redução da mortalidade intra-hospitalar e carga global das doenças associadas (DALY). Embora Portugal não seja um dos países Europeus com maior consumo de sangue per capita, um programa de PBM representará uma melhoria fundamental nos resultados em saúde relativos à utilização de transfusões e suas consequências na duração do internamento e na taxa de reinternamento.

Em suma, todos estes factores representam um elevado valor em termos de saúde pública, o que também implica um grande valor económico para o Serviço Nacional de Saúde, face à possibilidade de uma poupança substancial após um ano da implementação de um programa de PBM em Portugal.

Na eventualidade da implementação de um PBM em Portugal, a administração de ferro e a estratégia transfusional restritiva de concentrado eritrocitário seriam as intervenções de eleição de acordo com a opinião do grupo de peritos nacionais.

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