
Poster 10
USO DE FERRO ENDOVENOSO DE ALTA DOSE NA ANEMIA DO DOENTE ONCOLÓGICO
Autores
CLÁUDIA ALVES, MARIA ROSALES, TERESA RAMALHÃO, MARIA JOÃO MILHEIRO, LUÍSA LOPES DOS SANTOS
SERVIÇO DE IMUNO-HEMOTERAPIA, INSTITUTO PORTUGUÊS DE ONCOLOGIA DO PORTO FRANCISCO GENTIL, EPE
Introdução: A anemia no doente oncológico é uma entidade frequente. Habitualmente apresenta um cariz multifatorial, podendo levar a um incremento na morbimortalidade. Quando a causa é a carência de ferro, a administração de ferro por via oral pode ser ineficaz, sendo este facto condicionado por fatores como a má absorção. Para permitir a realização dos tratamentos multidisciplinares a que estes doentes são submetidos, é importante otimizá-los do ponto de vista hematológico e, sempre que possível, sem recurso a terapêutica transfusional. As novas formulações de ferro endovenoso (ev) vieram permitir a administração de concentrações mais elevadas de ferro de uma forma mais segura. O Serviço de Imuno-Hemoterapia (SIH) desempenha um papel fundamental na avaliação dos doentes com anemia relacionada com a doença oncológica, na medida em que define a indicação e necessidade da realização desta terapêutica.
Objetivo: Caracterizar a população de doentes que realizaram ferro ev de alta dose, carboximaltose férrica, no Hospital de Dia do SIH, desde a sua introdução no formulário terapêutico da Instituição.
Material e Métodos: Análise retrospetiva no período compreendido entre Fevereiro de 2014 e Agosto de 2016. Esta formulação de ferro ev, foi aplicada aos doentes com os seguintes critérios: comprovado défice de ferro, necessidade de uma correção em tempo útil dos valores de hemoglobina (Hb) para preparação para cirurgia ou radioterapia (RT) e também quando há intolerância ao ferro oral ou falta de eficácia comprovada. Assim, pretendemos caracterizar a população no que refere aos seguintes parâmetros: sexo, idade, patologia de base, dose total de ferro administrada e número de sessões de Hospital de Dia, bem como necessidade de transfusão durante o período de realização desta terapêutica. Avaliação dos valores analíticos de Hb e cinética do ferro pré e pós administração de ferro ev e do seu incremento, apresentados sob a forma de mediana (minímo; máximo).
Resultados: No período de tempo estudado, 28 doentes realizaram carboximaltose férrica (17 sexo feminino) com uma mediana de idade de 66 anos (mín. 40; máx. 90). A patologia do foro digestivo (15 doentes) foi a que mais frequentemente motivou o uso desta terapêutica, seguido da patologia ginecológica e mamária. A otimização do doente para cirurgia foi o motivo mais frequente de realização desta terapêutica (12 doentes), seguido de anemia sintomática (7), otimização para a realização de RT (6) e os restantes 3 doentes apresentaram má resposta à terapêutica com ferro oral. No que se refere ao tipo de formulação de ferro ev, 25 doentes fizeram exclusivamente carboximaltose férrica e 3 realizaram também óxido de ferro sacarosado. A mediana de sessões de hospital de dia foi 2 (min. 1; máx. 4), sendo a mediana da dose de carboximaltose férrica administrada de 1500mg (min. 1000; máx. 2000). Nos doentes analisados apenas 2 necessitaram de transfusão de concentrado de eritrócitos durante o período em que estavam a realizar ferro ev, por anemia grave (Hb<7g/dL). Os valores analíticos de Hb passaram de 8,7g/dL (5,8-11,7) para 11,1g/dL (7,6-13), o mesmo sucedendo com os valores de ferro sérico de 3,1ng/mL (1,2-20) para 13,6ng/mL (2,7-25,1) e de ferritina de 11ug/L (11-385) para 647ug/L (17-1073). Assim, verificamos um incremento de 2,4g/dL no valor de Hb, de 10,6ng/mL no valor de ferro sérico e de 636ug/L no valor de ferritina.
Conclusão: Todos os doentes revelaram uma resposta rápida à administração de ferro ev de alta dose com incremento no valor analítico de hemoglobina, de ferro e de ferritina, o que comprova a eficácia desta formulação. Desta forma podemos concluir que foi possível a otimização dos doentes analisados com consequente diminuição das necessidades transfusionais e da exposição aos riscos inerentes ao ato transfusional.